Artigo de autoria de Sandra Baía, Busness Manager da KCS iT, publicado originalmente no Dinheiro Vivo.
Tendo crescido num meio rural, vivi a minha infância num ambiente e numa comunidade em que as meninas eram encorajadas para tarefas domésticas, ligadas ao cuidado. Os meninos, por sua vez, eram orientados para tarefas exteriores, relacionadas com o desafio e vontade de vencer.
As minhas prendas de aniversário e de Natal eram, bonecas, jogos de cozinha e telefones coloridos. Ao inverso, o meu irmão recebia naves espaciais, robôs e vídeo jogos.
Desta forma a sociedade e as expectativas pré-estabelecidas eternizavam a ideia de que o mundo feminino era o espaço do cuidado, das emoções e o domínio privado - casa, filhos - sendo o mundo das grandes construções, da lógica, das conquistas e aventuras, o masculino.
Desta forma, durante várias gerações, este estereótipo acabou por influenciar diretamente nas escolhas futuras em relação à nossa profissão, fazendo com que os cursos na área da tecnologia fossem predominantemente do mundo masculino.
O mundo feminino não via o mundo da tecnologia como seu.
As normas sociais estabelecidas conduziram, num determinado período a subrepresentatividade das mulheres no ensino de disciplinas STEM (Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemáticas) e, consequentemente, nas carreiras nas respetivas áreas.
Contudo, apesar dos obstáculos impostos às mulheres no mundo científico e tecnológico num determinado período e contexto social, o trabalho intelectual e resiliente das mesmas conduziu-nos à tecnologia e à internet como a conhecemos hoje. O primeiro algoritmo da história, protocolo STP, a tecnologia dos telemóveis e redes wi-fi, bem como, algumas das mais importantes linguagens de programação, foram criadas por mulheres.
Hoje, em Portugal, são muitos os exemplos de mulheres que construíram carreiras de sucesso nas áreas STEM. Daniela Braga (DefinedCrowd), Carolina Amorim (EmotAI), Cristina Fonseca (Talkdesk), Daniela Seixas (Tonic App), são alguns nomes de portuguesas que têm vindo a distinguir-se no setor empreendedor Nacional e Internacional pelas suas criações inovadoras. Segundo o Mastercard Index of Women Entrepreneurs 2019, Portugal foi classificado como o 10º país com maior percentagem de mulheres empreendedoras com 30,2%.
O paradigma social mudou e a influência do mundo tecnológico é uma evidência incontestável. Devido à digitalização e ao número crescente de start-ups e empresas tecnológicas em território nacional, a procura por profissionais qualificados em áreas STEM disparou e a presença e influência femininas são hoje uma realidade.
Acredito no valor e nas valências das mulheres no mundo das tecnologias. Acredito que um ambiente multicultural, inclusivo e com pluralidade de género se torna muito mais rico e propício à criação de novas ideias e resolução de problemas.
Juntos seremos, sempre, melhores.