Adriana Mota, Head of Area da KCS IT, assinou um artigo de opinião no Observador sobre a importância do contacto presencial na era do trabalho remoto. Com o título “A nostalgia do contacto”, o texto pode ser lido integralmente abaixo.
A Nostalgia do Contacto
Vivemos em frente a um monitor e grande parte da nossa dinâmica social é feita através do recurso à tecnologia. Mas a tecnologia, por mais real que seja, nunca vai substituir o contacto físico.
O fruto proibido é sempre o mais apetecido…. Foi assim que nos últimos anos desejámos o trabalho remoto! Forçosamente a nossa realidade alterou-se, passámos efetivamente a ter que aprender não só a trabalhar mas a viver e conviver quase remotamente e agora sentimos falta do que sempre demos por garantido, o Contacto Físico na Era do Remoto!
Apesar de ser objeto de estudo há pelo menos 67 anos, quando já Maslow, em 1954, afirmava “ que o Homem tinha cinco necessidades: de sobrevivência, de segurança, de relacionamento, de autoestima e de realização pessoal,“ nunca estas necessidades foram tão globalmente e simultaneamente colocadas em xeque como no século XXI.
O que estamos a experienciar hoje é uma antecipação do futuro que já todos tínhamos perspetivado mas que nunca esperámos que chegasse de forma tão abrupta.
A Era do Remoto chegou e forçou-nos a repensar aspetos importantes da vida, puxou pela nossa criatividade, pelo pensamento “fora da caixa”, obrigou-nos a sermos menos resistentes à mudança e a sermos mais tolerantes com aqueles que, naturalmente, são mais “avessos” às tecnologias e, mais importante que isso, obrigou-nos a reinventarmo-nos enquanto seres sociais.
A nossa dinâmica social alterou-se, é um facto: vivemos em frente a um monitor e grande parte da nossa dinâmica social é feita através do recurso à tecnologia. Tecnologia que nos aproxima na ausência, que nos abre as portas para o mundo e nos permite ir além-fronteiras. A tecnologia permite-nos aproximarmo-nos daqueles que estão longe de nós e de alguma forma apaziguar este sentimento tão português que é a saudade!
Porém, a dinâmica do trabalho também sofreu profundas mudanças para aqueles sectores que passaram obrigatoriamente a exercer funções em regime de teletrabalho: um simples brainstorming passou a ter que ser via teams/zoom, o acolhimento de novos colaboradores passou a ter que ser repensado, a criação de laços e de espírito de pertença às empresas passou a ser um dos maiores desafios das organizações e as próprias dinâmicas de trabalho tiveram que ser ajustadas e continuamente reajustadas. A própria dinâmica social em contexto de trabalho continua a ser desejada, como o cafezinho de 10min a meio da manhã pela necessidade não só da cafeina, mas também pela necessidade social, o brinde das conquistas, o ombro amigo nas derrotas… tudo isso continua a ser possível, mas com uma forma de ser diferente.
A nossa necessidade de estar com pessoas é tão grande que, hoje em dia, a simples chamada telefónica caiu em desuso, o SMS quase que não se utiliza, o e-mail não é suficientemente rápido… mas a realidade é que na maioria dos casos somos nós que optamos por não usar essas tecnologias, porque não nos permitem ver a pessoa do outro lado. A videochamada faz-nos sentir mais conectados à pessoa e por isso a escolhemos, numa tentativa de colmatar a falta do social.
Focando-me nas necessidades de relacionamento, a Era do Remoto traz-me sentimentos antagónicos:
— O tempo anteriormente perdido em deslocações, transito, transportes públicos foi otimizado e passamos a ter mais tempo para a família … mas em muitos casos, perdemos o contacto físico com a mesma;
— Ganhámos mais tempo para os amigos … mas perdemos o tempo de convívio com eles;
— Ganhámos qualidade de vida no que toca a poder trabalhar no conforto do lar … mas perdemos a dinâmica social do mundo que nos rodeia
— Ganhámos proporcionalmente mais autonomia e responsabilidade no trabalho … mas perdemos o “colega/amigo” do lado
— Ganhámos rapidamente inúmeras ferramentas tecnológicas que nos permitiram o contacto mais direto com os que nos são queridos … mas perdemos o contacto físico com os mesmos;
A tecnologia, por mais real que seja, nunca vai substituir o contacto físico e essa é a dura realidade de quem adora a tecnologia e tudo o que a mesma nos tem vindo a trazer.
Numa altura de grande preocupação ambiental, há sempre quem defenda que The Nature always finds a way, como uma frase muito utilizada para demarcar a passagem de uma Era. Será que o Homem, que por excelência é um ser social, encontrará a sua forma de equilibrar a importância da tecnologia com a importância do relacionamento físico?
Tanto ganhamos com a Era do Remoto, como tanto perdemos. Para que lado pesa a tua balança?